Monólogos Escritos
terça-feira, 12 de junho de 2012
Despedida
Fico imaginando se não existissem despedidas, se apenas nos afastássemos e não relatássemos os motivos, nem mesmo deixássemos as pessoas a par da situação, de nosso afastamento. Talvez fosse melhor, talvez possibilitássemos com isso um resquício de esperança, um pouco de fé de que não acabou, de que aconteceu alguma coisa, de que não, ele não foi – se ele tivesse ido, teria dito adeus. Talvez seria pior se não nos despedissemos. A fé e a esperança são ótimas, mas saber que está alimentando a fé de alguém em algo que já acabou deve ser pior que dizer adeus.
Falo tudo isso porque este é o último post do blog. Até aqui foram 189 postagens, 118321 visualizações únicas, 1 ano, 10 meses e 7 dias. Até aqui foram textos incrivelmente mal escritos e horrorosos, textos inteligentes e originais, textos emocionantes e felizes, textos chatos e absurdamente equivocados. Até aqui foram 487 comentários, 176 seguidores. Até aqui foram quatro autores, quase cinco, sendo que só dois que continuaram até hoje. Muita coisa rolou neste nosso recinto.
Acho difícil dizer que este é um blog pouco povoado, que é mais um blog idiota na internet. Sei que nunca chegamos – e dificilmente chegaríamos – ao nível dos blogs mais acessados da web, aqueles que acumulam milhões de seguidores, milhões de postagens, fama e sucesso. Sei também que tiveram comentários que até hoje me marcaram, conversas com leitores que até hoje estão em minha mente, que me alegraram.
Sim, isso é uma despedida. Deste blog. Não nos hospedaremos mais no blogger, não seremos mais o “Monólogos Escritos”, mas continuaremos escrevendo (e mais outras coisas) para a internet. Aguardem. Simplesmente o blog mudará um pouco. O formato ainda não foi discutido, mas vocês logo saberão. Quem nos acompanhou desde o início, ou mesmo desde a semana passada, ou mesmo quem pesquisou “monólogos” no Google e clicou em nosso blog, acesse e curta a nossa página do facebook e aguardem. Vocês não vão se arrepender.
quarta-feira, 30 de maio de 2012
Orkutização
Hoje não quero escrever algo sensacionalmente e bem escrito, porque não gosto de tarefas difíceis para alguns, impossíveis para esse blogueiro que vos escreve. Este post é sobre um assunto que já se tornou clichê em vlogs e tumblrs, que continua sendo modismo no facebook e que me importuna o bastante ao ponto de me fazer criticar por aqui.
Não me considero um webviciado, mas utilizo redes sociais (até mesmo o pinterest) e fico a par do que é escrito e dito pela maioria nestes recintos. Desde que o Orkut ‘perdeu’ para o Facebook, que o twitter e o facebook começaram a ser as mais utilizadas redes sociais na internet, e que mais e mais vlogs começaram a surgir, a internet pode ser dividida em dois extremos.
Esses extremos se caracterizam pelo lado que gosta e pelo lado que odeia. O lado gostante normalmente se acha superior, pois em determinados momentos, em relação a determinados conteúdos, conferem, comentam, parabenizam os criadores e divulgam. Para estes mesmos conteúdos, existe o lado odiante, aquele que não faz nada mais que assistir, conferir e... xingar a mãe do produtor de conteúdo, manda-lo para lugares não muito legais e assim poluir comentários em diversos lugares.
O lado gostante denomina o lado odiante como orkutizado. Costuma-se prevalecer em determinados momentos um ou outro lado. O lado gostante se atém a criticar todos os costumes do lado odiante. Tudo o que alguém, que xinga o que eu gosto alguma vez, pensar, fazer, falar ou publicar será orkutizado demais, será inferior ao meu pensamento superestimadamente perfeito. E assim vivemos essa hipocrisia.
Essa dicotomia em relação ao público online, esse pensamento de extremos, não é o meu, eu apenas me referi ao que é pensado atualmente. Acho que a internet é um saco de farinha, onde poucos não são grãos, e esses poucos não tem voz. Isso mesmo, é tudo farinha do mesmo saco.
Ao mesmo tempo que um vem e posta frase de Raul Seixas ou Saramago no facebook, esse mesmo cara xinga mães de famosos no youtube, critica o país no twitter… O problema dessa massa, em minha opinião, não é suas atitudes nem suas críticas. Não me incomodo com frases clichês sobre política publicados no facebook, por ateus querendo expor suas ideias no twitter, por gente xingando mães de famosos no youtube. O que me incomoda é a falta de autonomia online.
Ao mesmo tempo em que redes sociais possibilitam a usuários uma voz, um modo de falar o que pensam, retira a autonomia dos usuários. Pessoas começam a repetir pensamentos, a repetir atitudes ou mesmo a não contribuir em nada com nada. Pessoas se tornam apenas números para redes sociais, pois simplesmente acham algumas coisas que veem geniais e não as criticam, não adicionam opiniões próprias, não pensam por si.
Era isso que eu queria dizer. Se o post ficou ruim, leitores, me perdoem mas eu precisava escrever sobre isso. Até logo!
quarta-feira, 23 de maio de 2012
Obsessão por agradar
Estou sumido a algum tempo do blog. Nem posso atribuir a culpa à minha faculdade, pois ela está em greve. Vivo o drama que outros milhares de universitários neste país estão vivendo, de suas universidades, federais principalmente, estarem em estado de greve, graças a um governo, digamos, sem planejamento algum. Não quero entrar neste viés, pois não é isso que quero abordar aqui neste post.
O que quero abordar, ou melhor, perceber, (co)juntamente a vocês, é a dura realidade existencial de todos nós: não sabemos aproveitar a liberdade.
Vivemos sempre com condições impostas por algum grupo. A família, a escola, a religião, o país... Cada grupo que pertencemos nos dita regras sobre o que devemos e não devemos fazer, como podemos ou não nos comportar. Isso não é novidade. Entretanto, há determinados momentos em nossas vidas em que podemos decidir continuar seguindo este grupo ou mesmo desistir deste grupo. Há essa liberdade.
Por exemplo, mesmo que cresçamos em determinada religião, nada nos impede de repensarmos e mudarmos de religião, ou mesmo adotar a postura de não possuir religião e não acreditar em Deus ou o que quer que seja. Há momentos em que começamos a usar de nosso senso crítico veementemente e começamos a questionar se as coisas são mesmo como nos foram apresentadas, se é mesmo correto, por exemplo, aceitar tudo que nossos pais falam. Chamo esses momentos de esclarecimentos.
A partir do esclarecimento, podemos (re)afirmar nossa crença na fidedignidade de determinado grupo, ou mesmo podemos desistir de pertencer a determinado grupo. A partir destes momentos, procuramos outros habitats, meios de nos satisfazer existencialmente, grupos que se aproximem de nosso ideal ou que nos conquistem. O problema da obsessão por agradar começa nestes momentos.
Simplesmente, quando nos encontramos na posição de escolha, de poder decidir qual rumo seguir, qual grupo pertencer, e escolhemos tais meios ambientes, sentimos-nos livres. Essa sensação de liberdade é notória quando nos sentimos realizados por termos encontrado pessoas, tribos, lugares, que nos aceitam e que nos satisfazem. A partir do momento em que começamos a pertencer a estes novos grupos, mais corretos e perfeitos, sem perceber, somos introduzidos a outras regras e de novo voltamos a ser ditados sobre o que podemos e o que devemos fazer.
Valorizamos tanto estes novos habitats que não questionamos as novas regras. Começamos a, por exemplo, nos vestirmos do modo imposto, adequarmos nosso vocabulário, ouvir, ver, ler o que indicam. E muitas vezes não é uma regra instituída que nos faz nos adequarmos à nova maneira, mas apenas uma obsessão por continuar pertencendo ao grupo, por não desagradar, por não pisar na bola e dizer algo que não vão concordar. A sensação que antes fora de liberdade agora se torna uma nova obrigação, e não percebemos que nossa individualidade escorre por água abaixo.
Não exemplifiquei muito, mas acho que ficou claro o que pretendi perceber (co)juntamente a vocês. Os grupos, os habitats, os meios ambientes, todos estão sempre presentes em nossa vida e não dá para nos livrarmos disso. O que importa dizer é que é muito mais valioso conservarmos nossa individualidade e nossa personalidade que virarmos “marionetes ambulantes”. Simpatize com grupos, com pessoas, com tribos, mas não prive sua opinião, seus gostos pessoais, para agradar quaisquer regras instituídas. Esclareça-se e não se torna massa indecisa.
domingo, 13 de maio de 2012
Alguns motivos para não se comemorar o dia das mães
Fazem hoje exatamente treze dias que não faço uma postagem por aqui. Pra não usar mais que um parágrafo para explicar o porquê de minha ausência, digo apenas uma coisa: Parmênides não me deixou postar nada. Se algum leitor quiser entender melhor o que Parmênides tem a ver com minha ausência, és livre para me perguntar no facebook, ou no twitter... Ou de quaisquer forma possíveis. Use a criatividade!
Calhou de no dia que volto à minha vida, ser um dos dias mais importantes que conheço em nosso calendário, o dia das nossas progenitoras. É difícil fazer um post em relação ao assunto sem ter uma dose de clichê e de chatice. Não que os clichês sejam ruins, afinal são um dos melhores clichês feriadescos. Acho bem piores os clichês para o dia da consciência negra, ou para o dia das crianças.
Pois bem. Neste blog, outrora eu já fiz um post sobre o feriado, absurdamente carregado de clichês e de frases feitas. Hoje não quero fazer isso. A ideia que tive para comemorar este dia com vocês, escrevendo este post, é a de mostrar alguns motivos para não se comemorar o dia das mães. É isso mesmo. Não me interpretem grosseiramente. Eu comemoro o dia das mães, acho minha mãe uma das pessoas mais geniais que esse mundo já conheceu ou poderá conhecer, mas quero desconstruir o sentido de alguns dos motivos mais usados para comemorar o dia das mães. Então, farei uma lista.
1º - Não comemore o dia das mães porque ela é sua mãe
Há motivo mais evidente para se comemorar o dia das mães do que este? Vejo diversos filhos entregando seus presentes, declamando uma meia dúzia de frases tocantes do tipo “você sonhou comigo, me criou, me gerou”... e blá blá blás carregados de bombons e corações de pelúcia. Entenda que é óbvio que você comemora o dia feito para sua mãe, mas você não comemora pelo fato dela ser sua mãe. Um feriado de tal relevância não poderia ter um motivo tão banal.
2º - Não comemore o dia das mães porque você não consegue viver sem ela
Pior que o primeiro motivo, é esse. Haja falta de criatividade e amor. Detalhe que este é ainda mais usado. Hoje, milhões de filhos na face da terra usarão esse motivo para comemorar o dia das mães, dizendo para suas progenitoras frases como “mãe, não imagino como seria minha vida sem você”. E são justamente esses que normalmente pedem seus “momentos de privacidade”, seus “espaços”, que discutem com suas mães porque elas abrem suas mochilas ou conferem seus perfis em redes sociais. Também não imagino minha vida sem minha mãe. Não sei como conseguiria estudar e ainda fazer minha comida, passar e lavar minha roupa! Você não comemora o dia reservado à sua mãe porque ela é um “presente de Deus” feito para resolver seus problemas.
3º - Não comemore o dia das mães porque ela é sua amiga para todas as horas
Esse é o último motivo que vou abordar. Quantas vezes vejo gente comemorando o dia das suas progenitoras e as referindo como as “suas primeiras amigas da vida”, “que sempre podem contar”, que “sempre podem confidenciar tudo”. Há algo mais hipócrita? Não quero generalizar, mas grande parte das pessoas, normais, NÃO CONTAM TUDO QUE FAZEM à sua mãe. Normalmente, temos como confidentes alguns amigos. Não vamos ser patéticos de inventar essas mentirinhas clichês, pois nossas próprias mães sabem que não somos ABSOLUTAMENTE confidentes delas.
Você pode questionar todos esses motivos, achar que eu exagerei, ou mesmo se questionar sobre qual é realmente o motivo que eu acho ideal para se comemorar o dia das mães. Simplesmente, acho que não há este motivo. O dia das mães não é um dia para ser reservado para comemorar o fato de você ter sua mãe e todos os seus feitos maravilhosos, é bem mais que isso. O dia das mães é um dia para pensar. Pensar no quanto deixamos de valorizar nossas progenitoras como elas merecem, nos outros 364 dias, 365 em anos bissextos.
O dia das mães é para pensarmos em nossa relação com elas. Não é para valorizarmos elas porque elas nos geraram, ou porque elas nos ajudam, ou porque elas são nossas amigas, mas simplesmente para admirarmos a vida delas. Pense em um aniversário. Você já viu um convidado chegar ao aniversariante e dizer “te desejo um feliz aniversário, porque você me ajuda sempre, porque você fez tal e tal coisa para mim”. A lógica do dia das mães é a mesma do aniversário, é também a de comemorar o fato de tal pessoa existir, e dessa existência completar a sua vida.
Posso dizer que minha vida, o que eu aprendi, o que eu sou, só tem sentido pela colaboração de minha mãe. Posso dizer que não vou concordar com tudo que ela diga, que não vou confidenciar tudo que faço a ela... mas que é ela a minha melhor amiga, no sentido de que nunca desconfiarei de seu amor por mim. Posso ter essa segurança, porque foi ela que me pegou nos braços, que me viu dar meu primeiro passo e falar minha primeira palavra. É ela que teme pelos perigos que posso correr e que fica feliz com meu sorriso, sem nenhuma hipocrisia. Tá, usei frases clichês, mas nem foram tantas.
segunda-feira, 30 de abril de 2012
Ócio Necessário
O homem é um ser em atividade, já pensava Heidegger, sempre sendo ou fazendo algo, se relacionando com o que chama de mundo. Fazendo uma leitura vulgar, menos relacionada à ontologia e a questão do ser, mas com foco na vida cotidiana, podemos perceber que é bem verdade que estamos sempre em atividade. Acordamos, não pensamos muito e nos envolvemos na primeira atividade diária. A partir daí, surge uma sequencia extensa de atividades a serem realizadas, prorrogadas, adicionadas, esquecidas. E por fim, dormimos, para no outro dia retornarmos a esse ciclo chamado realidade cotidiana. E isso nunca acaba.
O homem se acostuma ao trabalho, à escola, à faculdade. Ao começar cada atividade, se sente meio estranho, tendo que entender um pouquinho de como fazer tal coisa, como se comportar, mas logo se adapta aos meios, às cobranças, à velocidade. Seria um equivoco dizer que estas atividades não param. Existem os fins de semana, os feriados, as férias, as folgas. Habituamo-nos a aguardar esses “dias livres” para descansar. E quando vem o dia do descanso, trocamos a atividade do trabalho ou da escola por outras – tão ritualescas e obrigatórias quantas – atividades. Não há o descanso.
Simplesmente o homem daquele e deste século não está acostumado ao ócio. Somos como gerenciadores de tarefas, sempre com inúmeras atividades em andamento. Não usamos – porque não treinamos – parte do tempo para nos dedicar apenas à atividade de pensar. Parar para ver TV, ouvir uma música, ler um livro ou praticar um esporte são as formas de descanso, porque são atividades supérfluas, mas ainda atividades. Parar pra pensar é apenas parar e não fazer nada, segundo o senso comum. Pensar não é visto como uma atividade; não deveríamos, portanto, ficar pensando tanto, quando podemos fazer alguma coisa, não é mesmo?
É cultural em nossa sociedade que valorizemos profissionais cujas atividades envolvem o pensamento, mas visem atividades ou produções significativas. Quando vemos as ciências humanas – filosofia, antropologia, sociologia – admiramos menos, afinal é legal que eles pensem, mas bem que poderiam fazer alguma coisa além. Muitas vezes o ato de pensar é visto como empecilho. Quantas vezes já ouvi torcedores gritando “não pensa, chuta!”, como se pensar fosse algo distinto de fazer, como se pensar fosse algo secundário.
Parar para pensar é necessário. É necessário para que façamos o que nos faz diferente de qualquer outro ser até hoje conhecido. Só o homem pode parar e pensar sobre si, sobre os outros, sobre o mundo, sobre a natureza, sobre a realidade. O animal não tem essa atitude reflexiva, não que saibamos (para isso, deveríamos investigar, parando e pensando). Parar um pouco para pensar nos porquês, nos comos. Pensar é uma forma também de produzir, só que em longo prazo. Não é produzir algo para agora, mas é repensar o próprio eu e começar a rever valores e comportamentos próprios, identificar possíveis erros, procurar respostas, formar uma consciência crítica, atitudes que terão grande valor futuro.
Tire um momento do dia para o ócio. Ócio não como descanso, mas como parar para pensar. Reflita sobre o que você quiser, sobre o que lhe vier a mente, mesmo que seja a coisa mais banal. Faça questionamentos, desconfiando sempre das respostas que vêm facilmente, investigando mais a fundo. Cultive esse exercício. Pensar é bom e faz bem à saúde existencial.
sábado, 21 de abril de 2012
Entre espirros e enxaquecas
Sabe aqueles momentos da vida em que você não sabe se vai continuar respirando, porque tem alergia toda vez que há uma obra, envolvendo gesso, em sua casa, e sua mãe inventa uma obra dessas para seu fim de semana? Então, é essa a minha situação atual. Não bastasse isso, entrei numa furada por ter confiado na mesma. Ao invés de estar com amigos em um bom evento, fui enrolado, juntamente com minha progenitora, por uma ingenuidade da mesma de achar que se pode confiar em amigos que não fazem questão de falar com ela há mais de cinco anos e aparecem do nada, como se nada tivesse acontecido.
Despojada minha raiva, temporária, agora posso chegar ao tema do post. Que não existe. Pois é, não há tema hoje, não há assunto para ser discutido. Acho improvável um ser humano que enfrenta uma crise alérgica ter criatividade para escrever algo, desenvolver alguma opinião ou crítica.
Hoje fui surpreendido quando li as notícias sobre o Metal Open Air, evento de rock que ocorreu em Porto Alegre. Muitas bandas que não foram tocar, cancelando na última hora, uma falta de organização impressionante, tumulto, violência... E mais um evento mal organizado. O triste é que não tarde a bola da vez dos microblogs será criticar o metal, ligando o movimento à desordem e ao fracasso, como se roqueiros estivessem todos destinados a não saber se organizarem.
Isso já deve estar acontecendo. Afinal, preconceito é o que não falta nessa web. É muita oportunidade para falar o que se pensa. E ninguém liga para o respeito ou impõe limites. Não há filtro, não há bom senso. Não vou dizer que está se dando liberdade a quem não merece, pois fico próximo de uma censura, o que sou contra. Que xinguem, que berrem, afinal, quem realmente pensa e tem um pouco de juízo, não liga para comentários bestas.
Internet é bem isso, uma terra com muita gente. Ou não, internet não pode ser vista como uma única terra. Talvez sejam terras, no plural. Muitas terras, cada uma com suas regras. No twitter você pode xingar, afinal seus amigos do facebook não estão lendo o que você diz. Ao menos não os amigos chatos. No facebook, temos que postar manifestos políticos e sociais, para no twitter falarmos dos looks dos famosos. E no tumblr, no tumblr eu posso publicar o que eu sinto, afinal não terá aquele povo do twitter enchendo-me o saco...
Aliás, quem sou eu na internet? Não existe esse único “eu” na internet. Em cada lugar, cada pessoa, muito diferente da de outra rede. A internet proporciona esse uso de máscaras. Se bem que não há o “verdadeiro eu”. O que há é o que as pessoas veem, não é mesmo? Quantas vezes você já quis usar aquela camisa, ouvir aquela música, mas não o fez. Não o fez porque seus amigos não gostavam disso, ia soar mal, não é mesmo? Tem que seguir o que o grupo dita. Isso não é censura? Ah, nem tanto, certo? O que é liberdade afinal?
Cada um tem um conceito diferente para o que é liberdade, resta encontrarmos o que há em comum em todos. Será que é assim mesmo? Ou será que todos estão errados e a liberdade é algo bem diferente do que pensamos? Mas pera lá, liberdade não é algo físico, que pode ser tocado, é uma ideia. Eu tenho uma ideia, você não sabe a ideia que tive, pode tentar entende-la no momento em que eu te contar. Mas quem garante que contei tudo? Se liberdade é uma ideia, de quem será? A enxaqueca começa a subir, já espirrei umas mil vezes nos últimos vinte minutos. A noite continua a durar e nunca acabar. O sol virá e não trará consigo a paz. Afinal, o que será essa coisa estranha e desconhecida que chamamos de paz?
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Misturando tudo
Estou passando por um momento novo em minha vida. Quando se entra em uma universidade, percebemos que o ritmo agora é outro. Não só a liberdade é maior, como as responsabilidades também. Estou me graduando em filosofia. Com isso, a situação muda ainda mais. As discussões tornam-se mais frequentes. O teor das discussões se torna diferente. E a cabeça voa ainda mais.
Um ensinamento que tive, e aqui repasso, com algumas mudanças, é o que se refere ao título deste post. Sim, misturamos as coisas, e disso sabemos. Acho que todos que leem esse blog já se viram em situações onde perceberam que “trocaram uma coisa pela outra”, se confundiram, misturaram as coisas. Perceber isso parece algo natural e obviamente simples, porém misturamos também os discursos sobre as coisas, e isso é bem prejudicial (ou mesmo incoerente).
Uma pessoa diz que não acredita em Deus, por exemplo, e usa o argumento de que não pode ser provado cientificamente, que não é lógico acreditar quando a ciência não pode atestar. Isso é um exemplo de mistura de discursos. A forma com que a religião constrói sua concepção de realidade não é a mesma que a ciência constrói, logo não podemos misturar os discursos e tentar atestar uma verdade de um pela forma de atestado feita pelo outro discurso.
Seria como pensássemos que pudéssemos analisar um quadro surrealista da mesma forma que analisamos sintaticamente uma frase. Ou se pensássemos ser possível analisar a utilidade da água, de forma científica, enquanto estamos nos afogando no vasto mar. Isso é mistura de discursos, isso é confusão. Devemos entender que podemos analisar a verdade de algo apenas pelo contexto em que entendemos esse algo.
Um cientista vê a água como H2O, um padre vê a mesma como objeto de batismo espiritual, um homem sedento vê a mesma como salvação de sua vida. Em cada relação, a água é uma coisa diferente, algo distinto. O cientista não pode dizer que o padre vê a água incorretamente, pois o padre não está em uma relação cientifica com o objeto.
Não precisamos aceitar todos os discursos. Por exemplo, podemos escolher se vamos seguir ou não uma crença religiosa, se vamos aceitar o que a ciência diz sobre as coisas, podemos questionar se é correta ou não a utilidade de algo para tal pessoa, mas devemos primeiro entender o contexto em que a relação é dada. Não há uma única verdade, mas há verdades, no plural, e as verdades dependem da relação estabelecida. Um cientista, por exemplo, pode analisar cientificamente uma teoria cientifica, e entender se é correta ou não, segundo a ciência. Imaginem como seria um cientista contestando uma teoria porque a bíblia não a valida.
Você pode perguntar: mas então, porque o papa, por exemplo, pode dar a última palavra em assuntos científicos, como pesquisas, se ele é autoridade religiosa, uma outra relação de verdade? Eu só posso responder que infelizmente, não vivemos em um mundo que entende a verdade de forma relativa... Por isso há padres autorizando pesquisas científicas, cientistas tentando provar a veracidade bíblica, críticos analisando o sentido de obras de arte (que não trabalham com o sentido, por exemplo, ou trabalham, em uma logica diferente, paradoxal). Nem tudo é perfeito, infelizmente.
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Esforçar para simplificar
Não posso dizer que sempre, mas há muito tempo que reflito sobre a vida dos bebês. Há cerca de um ano, por meu priminho estar aqui em casa durante quase todos os dias, em todas as semanas, isso tem aumentado. Bebês são imprevisíveis, dão valor a coisas “insignificantes”, não se preocupam com o perigo, riem quando vocês os repreende e, não importa se você está cansado ou não, sempre pedem para que você os carregue no colo e os coloque “nas alturas”.
Ontem eu vi uma cena incrível. Após o aniversário de um ano do meu primo, ele ganhou uma bola pequena, de pano. Ele não larga da bola até agora. Ele ri, joga a bola para o alto, a rola... E acha a coisa mais prazerosa e divertida do mundo. Acho que talvez é mesmo a coisa mais prazerosa do mundo: vê-lo rindo com coisas que nunca paramos pra perceber, ou dar valor.
Fico pensando no momento em que ele crescer mais um pouco, começar a se cansar das coisas facilmente, a perguntar sobre tudo, ter as suas respostas, deixar de perguntar, se acostumar com o mundo e começar a se cansar de tudo e todos. Enquanto isso não acontece, curto cada momento, cada riso, cada bola quicada, cada passo dado. E fico me perguntando: não seria mais fácil se nos esforçássemos mais para viver como eles?
Esforçar para simplificar, essa deve ser a solução. O que vejo de gente cansada da vida, das decepções, dos esforços em vão, das palavras não ditas, dos erros “irreparáveis”... Se simplificássemos mais a vida, seria tudo tão fácil. Se começarmos a perceber valor e utilidade nas coisas mais banais, se dermos valor aos momentos com nossos amigos e familiares, como se fossem os últimos momentos de nossa vida, tudo seria mais simples. Muitas vezes os problemas vêm porque nós complicamos tudo.
Viver uma vida simples não é fácil, por isso digo que é preciso ter esforço. Afinal, fácil é ignorarmos, odiarmos, julgarmos, maltratarmos, discriminarmos... Amar, respeitar e aceitar é tarefa difícil. Mas vale a pena. Uma das únicas certezas que temos é a certeza da morte, como diz Epicuro. O mesmo filósofo diz que não devemos nos preocupar com isso, pois quando nos preocupamos com a morte, nós sofremos durante a espera, não durante o acontecimento. Viver honestamente, ter prazer e felicidade. Esse deve ser o melhor sentido para a vida.
O bebê consegue valorizar as coisas porque ele não as conhece, porque ele acha que tudo é uma surpresa, que tudo é novo. Nós não valorizamos porque já sabemos tudo, nada é novo, tudo é tedioso e chato. Com isso, ficamos ansiosos pelo novo, mesmo que o mais fútil o seja. Então, esperamos o novo produto, a nova moda, o novo conceito, e nos maravilhamos por segundos, para depois buscar outro algo novo.
A novidade é apenas uma questão de perspectiva, uma questão de como vemos as coisas. Tudo pode ser novo se começamos a dar outro sentido. O tédio acontece porque estamos cansados de ver as coisas como elas se apresentam e não sabemos como vermos de outro modo. E é simples. Basta apenas anularmos nossa visão e repensarmos a utilidade do que vemos. Um pôr-do-sol pode simbolizar refúgio ou fim do expediente do trabalho, uma comida deliciosa pode ser agradável ou apenas a necessidade de se comer logo porque se está com pressa, uma conversa com um amigo pode ser a chance de ouvir e falar coisas agradáveis ou apenas uma rotina.
Então, caro leitor, comece a tentar perceber que o que é tão banal pode não ser, e o que é importante, pode também não ser tão importante. Valorize mais pessoas que coisas, mais momentos que rotinas. E tente encontrar prazer em momentos que pareçam maçantes, aplicando um outro sentido a eles.
sábado, 31 de março de 2012
A Ciência Mítica
Estamos em uma nova era, a, como é dita por tantos, pós-modernidade. Em vários âmbitos, como política e economia, há mudanças drásticas, discussões que não se viam há tempos, ou que nunca aconteceram, o que nos leva a perceber que vivemos tempos de mudanças. Um traço da dita pós-modernidade é o avanço científico. O avanço, na saúde, na tecnologia, na biologia, na física, na engenharia e em diversas áreas, é real. O homem deste século anda com passos longos. O futuro agora se dá em um espaço menor de tempo. Não pensamos em grandes mudanças para daqui a 100 anos, mas para daqui a um mês, uma semana.
Com essas constantes mudanças e “evoluções”, há quem diga – e muitos o dizem – que há questões que não precisam mais ser discutidas, que a ciência já nos deu as respostas necessárias e que só devemos partir destas respostas já obtidas, para encontrar mais e mais e progredirmos. Discutir a existência de Deus, a existência de um primeiro ser causador das coisas, discutir sobre a realidade ou sobre o que é conhecimento hoje tem se tornado atividade inútil. Afinal, para que discutir sobre coisas já tão ultrapassadas?
Cada vez mais pessoas se baseiam no “cientificamente comprovado” para acabar com discussões e atestar sua certeza. Argumentos que comecem com “foi comprovado pela pesquisa do instituto X” ou “é cientificamente comprovado que” são mais normais e representam uma infalibilidade que não aceita contra-argumentos. A ciência não erra, os cientistas são imparciais, apenas falam as coisas quando podem provar, eles estão certos, não seria bem assim? Só devemos discutir o que a ciência ainda não pode, não é verdade?
Digo apenas que este “progresso” da sociedade com razão, comprovada cientificamente e inteligente, não é nada mais que a adoção de novos dogmas e de novos mitos, somada ao desejo de segurança, de certeza das coisas, que é muito comum ver neste século. Um comercial de um alvejante, detergente ou sabão em pó só vende quando se coloca alguém disfarçado de cientista dizendo que sua eficiência é comprovada cientificamente. Lemos uma matéria sobre buracos negros, viagens interplanetárias, física quântica ou o que quer que seja e, se a fonte for confiável – MIT principalmente – nós não contestamos, pois especialistas disseram.
Sempre é bom recorrermos aos antigos para entendermos como lidar com os novos. Se pensarmos que a filosofia começa com Tales dizendo que “tudo é água”, que Platão teorizava sobre um mundo exterior ao homem, formado de ideias, que Descartes não atribuía valor algum aos sentidos e que a ciência perdurou por séculos tentando constatar a veracidade do éter, percebemos que só avançamos quando colocamos à prova o que é “comprovado”, quando lemos, compreendemos e criticamos, quando não aceitamos tudo de antemão.
Não é porque se progrediu que tudo está correto. Não é porque a ciência avança que não ela não pode ser duvidada. Não é porque é ciência que é correto. Não podemos atribuir esta característica mítica à ciência. A ciência é feita por homens, falhos por serem homens. Devemos questionar não só a ciência, mas devemos também pensar em questões que ela não aborda. Como George Steiner sublinha em “Linguagem e Silêncio”, a ciência não consegue explicar o amor melhor que uma obra de Drummond ou Clarice.
segunda-feira, 26 de março de 2012
Falta de Educação?–Parte 2
Para quem já viu a primeira parte, e leu que nós que criamos e aplicamos o “código ético”, o que denomina que alguém seja educado ou não, o que cria o conceito de falta de educação, que faço este post. Disse que não era errado que houvesse convenções sociais, que criassem o “código de educação”. Acho que é fácil denominarmos a falta de educação partindo do pressuposto de que quem não segue as “leis”, não tem educação. É fácil, mas não é totalmente certo. Darei um exemplo.
Imaginem um país, não o nosso, um outro qualquer, com outra cultura. Imaginem que neste país, antes de comer, as pessoas tenham que cuspir no chão. Imaginem que qualquer um que não segue a tendência, é considerado mal educado. Isso quebra com o exemplo que dei no último post, sim.
Talvez você, que (como no exemplo do último post) considera cuspir no chão uma atitude de falta de respeito, de falta de educação, em um país com esse tipo de cultura, se daria mal. Teria que se adequar aos costumes e desconsiderar coisas que antes considerava como educação. Talvez você possa me dizer que é óbvio, que a educação, que o “código ético” é um para cada cultura.
Se é assim, então não existe um único código de educação, existam vários. E talvez não exista um sequer que esteja correto. Afinal, cada um tem uma disparidade enorme um para com o outro. Talvez, partindo desse pressuposto, não exista a melhor educação. Então como se pode considerar o outro como mal educado? Como podemos determinar o que é falta de educação?
Você pode me dizer que podemos dizer que é falta de educação determinada atitude, que não convenha com o código moral e ético, e que seja de alguém que esteja em nosso “habitat”. Isso porque eu disse que é cultural, e se alguém está em nosso habitat, é de nossa cultura. Certo? Errado. Aliás, para cada grupo, subgrupo, existe um conjunto de valores distinto. Pode-se em uma casa viver em uma família, por exemplo, e nesta existir um pai ateu, uma mãe judia e um filho punk. Qual seria a base necessária, o chão de cada um, para denominar que atitude de quem poderia ser caracterizada como falta de educação, se no mesmo habitat, todos têm opiniões e costumes diferentes?
O exemplo é um tanto exagerado, mas ilustra o que quero dizer, que cada pessoa tem um “código” diferente, então cada um tem sua educação, e não temos o poder nem o direito de determinar quem é ou não é educado. Acho que a única exceção possível é a que a maior falta de educação existe quando invadimos o espaço do outro.
Quando queremos impor nossas próprias regras, limitar, oprimir ou julgar o outro, aí sim há falta de educação, e a pior de todas. Falta de educação é prejudicar e insultar o outro, é não aceitar as diferenças como elas são, é achar que somos superiores e que podemos determinar o que é certo e errado. É com isso que devemos nos preocupar e não com os hábitos alheios.
Sinceramente, acho muito mais louvável uma pessoa que não sabe se portar quando come ou não agradece as coisas que recebe, do que alguém que cisma de dizer que tudo o que o outro está fazendo não está certo e que se habitua a julgar tudo e todos. Acho muito mais legal aquele pobre, mal vestido, que não discrimina ninguém, que aquele milionário racista, homofóbico, que julga as pessoas pelo status social.
Não quero promover a apatia, dizer que etiqueta não serve pra nada, que é pra todo muito começar a se emporcalhar por aí, mas quero lembrar que cada um é o que é, do jeito que é, e o que podemos fazer é ajudar. Mas toda ajuda só tem serventia quando não vem com julgamento, com desprezo. Somos todos diferentes, aceitemos isso!