Páginas

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Ócio Necessário

O homem é um ser em atividade, já pensava Heidegger, sempre sendo ou fazendo algo, se relacionando com o que chama de mundo. Fazendo uma leitura vulgar, menos relacionada à ontologia e a questão do ser, mas com foco na vida cotidiana, podemos perceber que é bem verdade que estamos sempre em atividade. Acordamos, não pensamos muito e nos envolvemos na primeira atividade diária. A partir daí, surge uma sequencia extensa de atividades a serem realizadas, prorrogadas, adicionadas, esquecidas. E por fim, dormimos, para no outro dia retornarmos a esse ciclo chamado realidade cotidiana. E isso nunca acaba.

cansado2O homem se acostuma ao trabalho, à escola, à faculdade. Ao começar cada atividade, se sente meio estranho, tendo que entender um pouquinho de como fazer tal coisa, como se comportar, mas logo se adapta aos meios, às cobranças, à velocidade. Seria um equivoco dizer que estas atividades não param. Existem os fins de semana, os feriados, as férias, as folgas. Habituamo-nos a aguardar esses “dias livres” para descansar. E quando vem o dia do descanso, trocamos a atividade do trabalho ou da escola por outras – tão ritualescas e obrigatórias quantas – atividades. Não há o descanso.

Simplesmente o homem daquele e deste século não está acostumado ao ócio. Somos como gerenciadores de tarefas, sempre com inúmeras atividades em andamento. Não usamos – porque não treinamos – parte do tempo para nos dedicar apenas à atividade de pensar. Parar para ver TV, ouvir uma música, ler um livro ou praticar um esporte são as formas de descanso, porque são atividades supérfluas, mas ainda atividades. Parar pra pensar é apenas parar e não fazer nada, segundo o senso comum. Pensar não é visto como uma atividade; não deveríamos, portanto, ficar pensando tanto, quando podemos fazer alguma coisa, não é mesmo?

PENSADORÉ cultural em nossa sociedade que valorizemos profissionais cujas atividades envolvem o pensamento, mas visem atividades ou produções significativas. Quando vemos as ciências humanas – filosofia, antropologia, sociologia – admiramos menos, afinal é legal que eles pensem, mas bem que poderiam fazer alguma coisa além. Muitas vezes o ato de pensar é visto como empecilho. Quantas vezes já ouvi torcedores gritando “não pensa, chuta!”, como se pensar fosse algo distinto de fazer, como se pensar fosse algo secundário.

Parar para pensar é necessário. É necessário para que façamos o que nos faz diferente de qualquer outro ser até hoje conhecido. Só o homem pode parar e pensar sobre si, sobre os outros, sobre o mundo, sobre a natureza, sobre a realidade. O animal não tem essa atitude reflexiva, não que saibamos (para isso, deveríamos investigar, parando e pensando). Parar um pouco para pensar nos porquês, nos comos. Pensar é uma forma também de produzir, só que em longo prazo. Não é produzir algo para agora, mas é repensar o próprio eu e começar a rever valores e comportamentos próprios, identificar possíveis erros, procurar respostas, formar uma consciência crítica, atitudes que terão grande valor futuro.

Tire um momento do dia para o ócio. Ócio não como descanso, mas como parar para pensar. Reflita sobre o que você quiser, sobre o que lhe vier a mente, mesmo que seja a coisa mais banal. Faça questionamentos, desconfiando sempre das respostas que vêm facilmente, investigando mais a fundo. Cultive esse exercício. Pensar é bom e faz bem à saúde existencial.

4 comentários:

  1. Igor, vulgo garganta! caro amigo, tomei a liberdade de criticar sua arte de escrever! acredito que minha opinião tenha, minimamente alguma relevância pra vc! Cara: seus textos precisam ser mais concisos, enxutos, breves!

    N preciso falar o quão bem vc escreve. Mas é válido ressaltar que é cientificamente comprovado que o brasileiro tem uma memória curta. Pidas precisam ser pequenas, histórias precisam ter um desenvolvimento rápido e TEXTOS precisam ter o mínimo de linhas possível. A não ser que sej um livro....

    Mas fiz questão de ler esse, e mantenho dito: vc será um dos mais bem sucedidos escritores e eu terei o privilégio de chamá-lo de amigo! Mas cabe a você parar de fazer merda e ficar rico logo! qru dizer: saí de filosofia!!!! uhauhsuahsuhausha

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. "o privilégio de chama-lo de amigo" (com certeza terá retornos financeiros por isso, né!?)

      Cara, em relação aos textos, o formato deles já é padrão. Cada post ocupa mais ou menos uma lauda A4, em estilo de formatação normal. E o blog não vai mudar esse tipo de padrão.
      Ainda acho que escrevo pouco, em relação a outros blogs de crítica, que fazem textos com o dobro de conteúdo escrito (ou melhor, de palavras, sendo muitos prolixos).

      Livro? Sim, escreverei, mas não é projeto de curto prazo. Filosofia? Terminarei a minha amada filosofia.

      Abraços, e volte sempre para ler os posts (depois de um descanso, pra conseguir ler o grande volume de texto...)

      Excluir
  2. Acho o tamanho bom. Não faz sentido propor uma reflexão crítica mais profunda e se adaptar aos moldes da mídia de massa.
    Achei legal o texto, mas não sei se concordo com a sua proposta de "separar um tempo" para o ócio. Quando você transforma o ócio em uma das atividades da rotina ele não se torna uma obrigação, uma atividade, um NEGÓCIO? 'Ócio necessário' não é uma contradição necessariamente, mas me parece no mínimo uma idéia desconfortável. O ócio devia ser uma atividade natural, comum.
    No fim das contas, é um problema muito difícil de resolver, né? Nossa rotina é muito alienante. O jeito é fugir pras colinas.. literalmente. ;)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ficaremos divididos quanto à questão. Para mim, não seria uma obrigação, seria algo natural. Só indico a experiência...
      Com certeza, o jeito é fugir para as colinas!

      Abraços.

      Excluir