Faz algum tempo que tenho vontade de postar sobre esse assunto, que muito me incomoda, mas deve ser discutido. Falo da desigualdade e dos contrastes sociais, da miséria que sobrevive ao lado da magnitude, do muito que convive com o nada. Falo daquilo que muitos falam, sem conviver com isso ou perceber o problema à volta. Tenho a “sorte” de ter experiência necessária para falar sobre desigualdade, pois moro no Rio de Janeiro e isso “ajuda”.
Posso me ater a falar sobre contraste social, pois qualquer região que eu visite, em minha cidade, sofre do problema. O pior é que a desigualdade, no Rio de Janeiro, atinge os maiores – e mais absurdos – patamares. Falo de mansões à uma ou duas quadras de “pântanos”. Falo de milionários que moram a 100 metros de favelas. Falo de uma sociedade altamente capitalista e hipócrita que não se compadece com o próximo, quando tem o necessário para ajudá-lo.
O brasileiro tem a fama – até um estigma – de bondoso, generoso e ajudador, mas essa marca se torna utópica, pois na realidade nos mostramos, a cada dia, um povo exclusivista, individualista, mal-educado; dentre outros aspectos repugnantes. Muitas das vezes isso acontece conosco sem percebermos.
O mundo, que é criado para quem muito tem, gera uma amálgama social e deturpa valores. Os ricos querem os condomínios, vidros blindados e lugares fechados apenas para obter uma separação com a realidade. Os pobres são privados da cultura e do conhecimento para permanecerem em seus mundinhos e não se capacitarem como verdadeiros cidadãos.
Não adianta vir e falar da democratização da leitura, dos preços baratos ou da gratuidade para centros culturais ou do incentivo ao esporte. Todos estes programas, na realidade, são destinados a poucos, ou mesmo são desconhecidos pela massa pobre. Eu já me cansei de ir a eventos culturais no centro da minha cidade (famoso esgoto ao ar livre) e não ver UMA pessoa que não tivesse celulares de última geração, carros incomparáveis ou roupas caras. Detalhe: Os eventos eram todos gratuitos.
Não só a cultura erudita, mas quaisquer coisas que promovam alguma evolução cultural ou social são privadas e não estão ao alcance de pessoas pobres. Falo da minha cidade, do meu país. Ser privilegiado no Brasil não significa poder ajudar os outros e sim poder estar acima de uma massa sem privilégios.
Nestes mesmos eventos que fui já percebi, muitas das vezes, os olhos tortos e as falácias distantes em relação ao meu status, pois não sou lá um rico nem alguém que habite a classe média. Sou apenas uma pessoa que teve sorte na vida por ter estudado, passado para um colégio diferenciado e aproveitado oportunidades. Se não acontecesse isso, eu não sei o que seria da minha vida.
Por fim, para não cansar mais os leitores com tanto texto, faço um apelo... Reflitam sobre a realidade em si. Percebam o que acontece em suas cidades. E após verem – e até ficarem surpresos com algumas coisas – façam algo, mesmo que singelo e pequeno, para tentar mudar. Estou fazendo uma das coisas mais pobres e inúteis que posso fazer, que é escrever para alguns leitores que terão paciência para ler este post até o final e repensar suas atitudes e as atitudes alheias, como espero eu. Para fim de conversa é bom lembrar que é pela apatia de um que se justifica a apatia de todos!
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