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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Relatos de um Recém-Assaltado #3 – O Valor de uma Vida

Após o assalto, pensei em várias questões e revi vários conceitos. O que mais pairou minha cabeça, de reflexões e pensamentos, foi esta questão do valor da vida, de quanto vale uma vida humana, se um celular ou qualquer outro bem material são o bastante para se por em risco uma vida de outra pessoa. Sem o sentimentalismo que sou tentado a pôr neste texto, e sem as razões que levaram o bandido a me assaltar, que já expus no post anterior, quero saber: Qual o valor de uma vida?
gandhi_1Não quero ser falso moralista ou um revolucionário oriental, mas por que somos tão individualistas? O individualismo deve existir, é claro, mas não pode se tornar tão vicioso, como está acontecendo ultimamente. Tem que se saber mediar o individualismo e o altruísmo. Temos que saber que nossa situação não é problema pessoal do mundo à volta.
Se aquele ladrão disse que estava me assaltando porque estava passando por um aperto financeiro, ele, com toda certeza usou do maior individualismo possível, o vicioso, que acredita que a única forma de sair de uma situação pessoal de grande tensão é resolver os problemas às custas de outras pessoas, sem que haja a necessidade da aceitação destas.
Também pensei e fiquei abismado com a necessidade do homem, de ter usado uma arma para praticar o assalto. Claro que se ele não estivesse com arma, eu fugiria ou tentaria embromar, mas por que a arma é a única forma de render outro indivíduo?
sem-arma-300x213Deixo bem claro que eu sou contra a posse de armas de civis, pois não acredito que defesa pessoal signifique isso. Sou a favor de uma segurança de qualidade para uma população que necessita, segurança essa intensificada em áreas de maior risco. Sou a favor de uma educação de qualidade. E quando digo isso, não me refiro apenas ao aumento do número de escolas ou do contingente pedagógico, e sim da forma como se ensina mudar, para uma forma mais eficaz, que não seja focada apenas na memorização, mas na mobilização. Mas isso não vem ao caso, agora.
Como estava dizendo, a arma era a única forma do homem atingir sucesso. E se ele não obtivesse o sucesso (de roubar-me), com toda certeza, ele me atingiria. Vocês perceberam que esta o uso da arma teve lógica, mas foi totalmente ilegítimo?
Homem sem arma, assalto mal-sucedido. Homem com arma, assalto bem-sucedido... Homem precisa arriscar outra vida para conseguir um maldito celular, que venderá para algum outro bandido que revenderá em um mercado popular pirata. Se homem não conseguir assaltar, se a vítima reagir, chumbo nela! E vai-se mais uma vida, como um sopro, sem sentimentos ou espera, apenas por causa deste maldito aparelho celular.
Entenderam como isso não é legítimo? Não dá pra entender que é necessidade de uma pessoa praticar algo que ponha em risco a vida de outra pessoa! Não há necessidade financeira que dê legitimidade a um assalto, ou no pior caso, um assassinato. Isso só pode ser chamado de uma coisa: Individualismo vicioso. Quando o individualismo governa as ações, completamente e sem limites, o homem está corrompido.
Para terminar, quero apenas lembrá-los de mediar o individualismo e o altruísmo, lembrá-los de que não importa a situação, precisamos ter atos lógicos, pensados, raciocinados e com pura legitimidade, caso contrário, pioraremos nossa situação.

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