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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Relatos de um Recém-Assaltado #4 – O Desespero, a Necessidade e o Engano

Dedico este post, penúltimo nesta saga, para mostrar como o argumento do assaltante foi equivocado, e como o tipo de mentalidade que o indivíduo teve perdura pelas mentes das pessoas ainda hoje.
Primeiramente, o argumento:
“Tenho mulher e três filhos, estou desempregado há dois meses, moramos de aluguel, vamos ser despejados se eu não pagar desta vez, e não encontro nenhum emprego. Estou te assaltando porque estou passando necessidade e preciso do dinheiro, estou numa situação bem pior que a sua, tente me entender”
Bom, primeiramente, quero destinar-me ao enfoque financeiro, e logo após, ao moral.
desemprego1Sei que, no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, encontrar emprego é uma tarefa difícil, ainda mais para alguém sem formação acadêmica, talvez nem básica, e sem qualificação. Entendo também que sustentar três filhos, morando de aluguel, não deve ser uma tarefa fácil, pois em uma situação de desemprego, a família encontra-se em um caos.
Posso entender a situação, mas não posso compreender como isso pode favorecer a “necessidade de assaltar”. E agora entro no enfoque moral. Ao invés de procurar seguro-desemprego e bolsa-família, buscar uma qualificação em algum curso público, procurar emprego ou qualquer coisa, o indivíduo prefere comprar uma arma e sair para assaltar?
assaltoÉ mais fácil? Tirar de alguém que tem o que você não tem... Isso pode se classificar como alternativa? O individualismo se torna tão imenso que ataca outrem? Se eu estiver passando por necessidade que não posso resolver no momento, a única forma de conseguir melhorar a situação é prejudicar outras pessoas para o meu bem-próprio.
Falo de individualidade, mas ele tinha uma família, não é mesmo? Não muda nada... Não tem justificativa... Pensando logicamente, a mulher dele poderia ajuda-lo, ele poderia se esforçar. Preciso lembrar também que o ato que ele fez pode condenar sua família, pois a pior coisa para essa seria um pai preso.
Chamam o Brasil de país da desigualdade e da corrupção, mas é também o país do individualismo, da apatia e de tantos outros males sociais, que passam despercebidos por nossos olhinhos, ou pelo menos fingimos isso.
A cidadania exige um aborto do egocentrismo e individualismo viciosos. Não dá pra um país justo coexistir com uma realidade cruel, que não é discutida, repensada e, posteriormente, transformada. Acho que não tem palavra de consolo ou esperança para esse último parágrafo, e isso é triste, mas a situação está realmente assim, só não vê, quem não quer!

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