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domingo, 29 de janeiro de 2012

Luvas de plástico e cocô na mão

Sempre quando vejo um dono de cão na praia, acho inusitado. O perfil é padrão. Quando são mulheres, normalmente são aquelas ladies emperiquitadas com seus cachecóis, passando pela calçada ou pela orla com seus cães, normalmente de raças orientais, ignorando o sol forte, andando sempre cobertas, sem mostrar nenhum desleixamento com a moda. Quando são homens, torna-se normal aparecer fortões, saudáveis e simpáticos. Não necessariamente as três qualidades unidas.

O que acho inusitado, não o bastante para tirar gargalhadas, porém sim para ficar pensativo, é o fato de que todos os donos, que correm, caminham ou até brincam com suas crias domésticas têm uma atividade em comum, aquela para uns, natural, para outros, constrangedora. Aquele momento em que o cão para, começa a andar devagar, dá aquela olhada maquiavélica para o dono e faz seu “totô”. E aí começa a jornada desgastante. Os donos, os sensatos ao menos, tiram do bolso a luva de plástico, pegam o elemento e o envolve.

cachorro cocoMesmo que seja desgastante, nojenta ou até incomoda a tarefa, é necessária. O dono que faz isso sabe que o intuito é não degradar o espaço público, ser respeitoso... Mas não é esse o tema do post, pois não fui contratado pelo IBAMA ainda. Ao pensar no ato de tirar as luvas de plástico e envolver o cocô, tive o complemento ideal para inserir a ideia deste post, de que melhoras acontecem quando se existe esforço.

Através do constante uso de redes sociais, percebo que muito se é dito sobre ativismo. Com a internet, pessoas acreditam que podem fazer alguma coisa, alguma mudança. Além das fronteiras da WEB, mundo afora temas como sustentabilidade, inclusão e vida saudável tem tomado espaço e ganhado notoriedade. Isso não é surpresa para ninguém.

Vejo que o apoio a certas políticas ativistas tem sido grande, muitos querem ajudar de alguma forma. Porém, na mesma medida que pessoas querem ajudar, grande parte destes não quer fazer esforços. Há pessoas que acreditam que assinar petição do Avaaz e retweetar posts do WWF ou dos Anonymous é uma grande atitude de melhora no mundo. Estas na realidade não movem uma palha e acreditam mudar gerações.

sentadoO segredo da mudança, a chave para que consigamos melhorar nossa realidade, ajudar as pessoas à nossa volta, é usarmos os donos de cachorros de referência e – daí a metáfora – colocarmos nossas luvas de plástico para pegar os cocôs. O ócio e a preguiça não ajudarão em nada se você quiser provocar alguma mudança real. Não quero que todos os leitores deste post se sintam na obrigação de serem os maiores ativistas desta sociedade, faça o que você quiser, mas não se intitule “ativista” permanecendo em uma zona de conforto, em um ócio diário.

4 comentários:

  1. Pra sociedade mudar ainda falta muito amigo. Nunca vi uma sociedade pelo menos tentar fazer a diferença. Quando apenas um muda, tá ótimo: você por alguns segundos se sente um cara "certo", mas depois você percebe que ninguém repara, que ninguém liga. Você logo volta a "tirar" as luvas de plástico. Só um mudar não adianta, é necessário que toda essa sociedade de mente fraca mude junta. Mas como disse na linha de cima, eles tem a mente fraca. Vai demorar, e muito.
    PS: eu tenho nojinho de pegar o "totô" do cachorro, mas mesmo assim eu pego...

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  2. Lucas Guarnieri, muito obrigado pelo comentário.
    Um dos maiores aprendizados que temos com Aristóteles em "Ética a Nicômaco" com a ética, pode ser inserido nessa discussão. Ele dizia que se eu respeito um conjunto de regras, mas a sociedade a qual pertenço não respeita, esse não tem validade alguma. Que a carapuça sirva!
    Volte Sempre.

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  3. em apenas 2 comentários essa foi uma das discussões mais legais que eu já tive!!
    uhull, me sinto completo

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  4. É, como diz aquele velho e conhecido ditado: "Uma andorinha só não faz verão", assim também aplico a agir em sociedade, vc faz sua parte e estimula os outros a fazerem a deles, senão não há sentido em vc fazer a sua...
    E é claro que fazer algo considerado como certo, requer uma GRANDE força de vontade, para não desanimar na primeira ignorada... é, e assim caminha a humanidade...

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